31.5.11

No matter how far wrong you´ve gone

you

can

always

turn around, turn around, turn around,

you may

come full

circle

and be new here


again

18.5.11

Ode ao Amor!

"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma

coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode

ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível

não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito


claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de


dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro.


Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um

amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas

apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são

colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam

muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por

causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da

lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem

tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".

O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se

sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor

transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A

paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se

uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem

de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do

amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas,

farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi

namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas

como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um

rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta

do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos,

bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.Já ninguém se

apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o

desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a

comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não

é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a

pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso

"dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e

descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se

vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a

loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.

Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos

compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto

pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo

ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A

"vidinha" é uma convivência assassina.

O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um

destino.

O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o

clima.

O amor não se percebe. Não é para perceber.

O amor é um estado de quem se sente.

O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás

do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é

bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais

bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração

apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil,

por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos.

E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela

que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para

perceber.

É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não

guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas

mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode

resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não.

Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."



MEC

12.5.11

poema

Em todas as ruas te encontro

em todas as ruas te perco

conheço tão bem o teu corpo

sonhei tanto a tua figura

que é de olhos fechados que eu ando

a limitar a tua altura

e bebo a água e sorvo o ar

que te atravessou a cintura

tanto tão perto tão real

que o meu corpo se transfigura

e toca o seu próprio elemento

num corpo que já não é seu

num rio que desapareceu

onde um braço teu me procura



Em todas as ruas te encontro

em todas as ruas te perco



Mário Cesariny