7.3.11

Isto sou eu.

O vidro virado para a lua. o bocado de papel no bolso. a camisa rasgada para fazer ligaduras. o uso branco onde moram as sombras. eu queria ser o que apenas vejo - a lua, lua que se dá ao luxo de ser cega, de tanto olharem para ela. a lua que se vos mete pelos olhos dentro, por saber-se tão longe que nunca lhe havemos de mexer. queria ser assim o que tu querias que eu fosse. mas sem que tu soubesses. fosse o que fosse, era isso que eu queria ser. isto sou eu. uma parte que não é precisa, que serve para o que não devia. uma caixa que sozinha não chega. quando eu queria era ser motriz. fazer parte da geringonça infernal da nossa vida. ter uma função que mais nenhum peça pudesse ter. ser capaz de comer com o resto da máquina. e carregar comigo o perigo e a importância de uma avaria. isto é o meu sonho. isto sou eu a sonhar. é tão pouco para quem pensa ser seja o que for. o estilhaõ de umespelho que o sol rebentou no jardim. um vidro onde a única coisa que se vê é a sombra de fogo que a queimou. é. mas sou eu, isto. um pedaço de nada, onde se sentem as coisas todas que eu não sou. mais valia não sentir do que ser assim.

MEC

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